Quando tudo começou, ele tinha o cabelo curto. Tão curto que dificilmente ela lhe adivinhava a cor e o tacto por entre os dedos. Quando tudo começou ela usava trança. Tinha cabelos longos, caídos sobre os ombros numa cascata morena, de cheiro a fruta doce. Entrançava o cabelo com a rotina com que se veste a roupa de Domingo e ele queria-a mais, sempre que a descobria no mar triunfante de cabelos soltos, adormecidos na fronha clara da almofada. A sua pele, em tom de casca de ovo de galinha de campo, emergia na brancura dos lençóis, delicadamente pontilhada como um napperon de renda de bilros. O cabelo dele, curto, tão curto como a barba escabrosa, lembrava-lhe o campo depois da ceifa, repleto de restolho que habilidosamente se queima para que tudo possa renascer. Lia-lhe nos olhos a ânsia de aventuras escritas no firmamento e sabia-se ressurgida, a cada beijar morno com que lhe invadia as omoplatas nuas, e a imensidão marítima de mistura tropical em que se envolviam, desde que tudo começara.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
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10 comentários:
adivinho-te os sinais...
E eu não adivinho a origem de comentário anónimos portanto, se não for pedir muito, assinem. ;)
Apetece-me bater-te. com um texto destes. Desculpa-me.
Já agora prazer em conhecer (:
fica*
que a fronha continue clara com os cabelos dela adormecidos em cima. e que um dia esses cabelos sejam nossos, não é verdade?
Que beleza, fiquei rendida às palavras, às cores...a fotografia está lindíssima também.
Beijinho*
a maneira como descreves tudo é fantástica!
pois é.
é mesmo bom! :)
Ainda sinto 'a cor da tua alegria, o cheiro da tua trança'! ;)
Lindo texto.
Continua :)
Beijinho*
Este texto está qualquer coisa de fantástico! =)
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