terça-feira, 9 de junho de 2009

O conceito de tempo não entra na sensação.


SMS: - Então?
Telefone toca:
- Sim? Vou agora apanhar-te a casa.
- Ok. Espero por ti ali, sim?
- Sim. Já passo a apanhar-te. Vamos lá?
- Yap. Estou a precisar.

Enquanto ela esperava espantava-se com os olhares que despertava. Olhou-se no espelho de uma montra e concluiu que não estava nada diferente dos outros dias. Talvez fosse o ar de cansaço.. O carro chegou. Abriu a porta, entrou.

- Então? Tranquila?
- Sim, na boa. Temos que ir apanhá-la.
- Onde? A casa?
- Sim. E assim ficamos logo lá perto.

Foram. Ela entrou e agora eram três, nos cinco lugares daquele carro. Foram para onde o sossego reinaria mas descobriram que não. Vários carros, várias pessoas, vários barulhos. Não, não era isto que procuravam.

- E agora?
- Não sei. Confio no teu discernimento. Preciso de um sítio com céu e silêncio. Leva-me lá. - disse com um sorriso.
E realmente foram. Nunca se teria lembrado de ir para ali.

- Vais sair do carro?
- Claro. Ou achas que aqui consigo ver todo o céu que preciso? É seguro, estamos no fim do mundo. - e riram. Sabiam perfeitamente que ali nada se passava.

Deitada no chão, pouco importada com a terra que jazia debaixo dela, sorria. O plano montava-se na sua cabeça, sem contornos maquiavélicos. E isso satisfazia-a. Não queria ser má. Estava cansada de se forçar ao rancor, característica que não era traço seu. Ouvia-as conversar e ria com elas, dos pedaços que conseguia reter e compreender, por entre o mundo distante em que passeava.

- Toma, tenho uma manta.

Estendeu-a no chão, confortando-a fisicamente, mesmo sabendo que não precisaria de nada daquilo. Ela aceitou em silêncio, de sorriso estampado. Voltou para dentro do carro e atreveu-se a perguntar:

- Estás a chorar? - disse ela, inclinando-se pela janela.
- Não. Estava a pensar como o céu é grande. Já viste a lua? Enorme mas ao mesmo tempo tão lá longe que nos sentimos pequenos. Olha! Um avião!
- Como é que vês? São luzes tão pequenas...

"Os sentidos são mesmo um dom enorme", pensou. Não respondeu. Ficou ali, continuando a gostar das recordações que iam e vinham com as gargalhadas delas. E amou-as por senti-las parte de si, cada uma à sua maneira. Tão diferentes mas tão especiais. Mesmo que ponderassem perguntar-lhe o que se passava, sabia que não o fariam. E esse respeito, juntamente com o silêncio palpável que ali se fazia sentir, tornou tudo real. Não havia mais lágrimas para chorar, havia sorrisos para dar.

O telemóvel tocou. Era mais uma, das delas.

- Vamos. Depois podemos voltar. Ou não.. Era isto que precisava e já o tenho.

Acabaram a noite com o carro parado, as quatro de cabeça de fora, sentido-se pequenas na grandiosidade das muralhas e nas luzes que delas saíam.

1 comentário:

Rita disse...

Ficção ou realidade?! =)