Mania.

A vida deu uma volta, daquelas que não se esperam. Encheu-se de responsabilidades, horários, entregas aqui e ali, pessoas para ver e conversas para ter. A vida deu uma volta daquelas que todas as vidas dão, quando se entra no mundo dos adultos, desta vez para o primeiro teste a sério. As costas amparadas, é bem verdade, mas agora sou eu e mais ninguém. A primeira coisa que os meus novos meninos me deram foi uma rosa-dos-ventos. Já me conheces, não consigo deitar estes mimos fora. E está ali, afixada no placard e olho-a todas as noites antes de dormir. Fixo o Norte e penso o mesmo todos os dias, "Onde estás, caramba?".

No fundo nem sei bem se perdida se aplica ao meu estado actual mas também um rótulo é só mais um pormenor, no meio de tantos. A verdade é que vejo o caminho à minha frente, mesmo desconhecendo a totalidade das curvas e contracurvas. E naquilo que sei que sou boa, estou como peixe na água. Há quem seja mais sábio que eu e me chame à razão, caso me desvie do pretendido. Há quem já tenha trilhado caminhos semelhantes e me indique atalhos, dos favoráveis, para que tudo corra de feição. Mas depois existe esta maldita pedra no sapato, que me vai ferindo o calcanhar e moendo o espírito. Talvez a solução seja simples: descalçar-me. Mas.. Gosto tanto destes sapatos. E se nunca me olhaste para os sapatos talvez agora seja a altura ideal para o fazeres. São bonitos, como eu. São bons naquilo que fazem, caminhar. E são coerentes, mesmo que isso implique andar por pântanos e noites escuras. Não sei se não tenho Norte. Não sei o que tenho. Não tenho paciência para muito mais e sinto o coração latejar. Tenho sim umas saudades terríveis do pai. De quando víamos filmes juntos e me aninhava no colo dele, de como era reconfortante ter o mundo ali, no calor do nosso amor. E hoje aninho-me num Pai diferente, na esperança que a proximidade traga respostas e clarividência.