quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Anatomia - lição 1.

Tenho a mania de complicar o fácil. Ou a mania de persistir no erro, não sei bem. Qualquer uma das duas parece-me hedionda o suficiente para deixarem de ser opção de escolha. E, para vos ser plenamente sincero, pouco sei das dificuldades da vida. Tive a minha dose, como todos teremos tido, mas nada de tão macabro que me faça amaldiçoar o dia em que nasci. A bênção de um dom que me foi dado, muitos antes de deixar inflar os pulmões com o oxigénio do mundo cá fora. Não foi o mundo que me trocou as voltas e me pregou rasteiras doridas. Fui eu, na minha insistência no não querer, não fazer, não me expandir. Fui eu, na minha pequenez. E hoje, aqui nesta cidade que nada tem de minha, garanto-vos que não teria vivido sem todos estes erros. Talvez agora tire dois minutos para repensar o Amor. O tempo escasso de beber um café e fumar um cigarro, com o Amor ali sentado ao meu lado, numa qualquer esplanada invernosa desta metrópole. Dois minutos e tantos tempos dentro deles. E o Amor a deixar-me ser. Tendo a delicadeza e a simpatia de me deixar conhecê-lo e tratá-lo por tu. Nestas coisas de viver e de aprender, sou subordinado. Pouco tenho para ensinar e isto é apenas um rascunho mal amanhado do que poderia ser. Posso apenas garantir-vos que não há nada mais puro que a entrega e a mutualidade da Vida. Sim, com maiúscula, como o Amor. Se pessoas com cargos importantes merecem letras capitais, então dádivas como estas mereceriam ortografias que agrupassem o mundo. E aqui, no mundo, já receio usá-las, por existirem tantos mundos por aí, dentro do mundo que conhecemos e tomamos como nosso. Talvez seja isto, sabem? Dois minutos, dois tempos, duas décadas multiplicadas pelo infinito. Talvez seja isto de que precisamos. De que preciso. Perder dois minutos no café com o Amor e ganhar a eternidade de uma Vida que se viveu, em pleno. E se para isso tivermos que cair outras duas vezes, então que seja. Não será para isso mesmo que temos dois joelhos?

4 comentários:

mariana disse...

está qualquer coisa...

qel disse...

adorei a última frase. e esta: "(...) se pessoas com cargos importantes merecem letras capitais, então dádivas como estas mereceriam ortografias que agrupassem o mundo" está curta e grossa! :p *

Nádia Ribeiro disse...

1. Amei o texto, há muito que não encontrava um blog que me provocasse tanta sede de ler e graças a ti, talvez acabe agora o livro que deixei na mesinha de cabeceira há uns meses.

2."Posso apenas garantir-vos que não há nada mais puro que a entrega e a mutualidade da Vida. Sim, com maiúscula, como o Amor. Se pessoas com cargos importantes merecem letras capitais, então dádivas como estas mereceriam ortografias que agrupassem o mundo." - está qualquer coisa de extraordinário, talvez adopte essa reflexão, sem violar os teus direitos de autora, claro (:

3."E se para isso tivermos que cair outras duas vezes, então que seja. Não será para isso mesmo que temos dois joelhos?" - amei, acho que é o final perfeito, mesmo.

Adoro a tua escrita mesmo, fiquei fã.

beijinho

fairy_morgaine disse...

Absolutamente divinal a tua escrita :)