sábado, 18 de dezembro de 2010

Uma fitinha p'ró chapéu.

Subo a rua, embrulhada na brancura do casaco que me cobre do nariz aos joelhos. Cai uma chuva miúdinha, mal se dá por ela, e só a percebo quando o nariz pinga uma gota fria de água de céu. Há lojas abertas, pessoas nem tantas. A música soa como se me tivessem colocado no fundo do oceano, lá longe. Serve de pano de fundo a este cenário que, de tão meu, ainda me espanta. Vou andando devagar, sem pressa de fugir à chuva, saboreando as luzes suspensas e os reflexos no calcário gasto. A porta do café está aberta e é de lá que vem o cheiro a pastéis de carne. Caminho no centro, para poder ver tudo o que me surge à esquerda e à direita. Lá mais à frente vou ter uma surpresa. Há um som característico, indescritível, e sei que estou em casa. Bebem um copo de vinho como quem celebra o nascimento de um filho e cantam, de voz embargada pelos vários licores que já lhes ofereceram, em outras tantas tascas como esta. Riem a bom rir, porque é Natal e cantam ao Menino. E eu passo, páro por uns segundos, sorrio-lhes e sigo caminho, cantando com eles.
É Natal e estou em Casa. E o sentimento é indescritível.