terça-feira, 13 de abril de 2010

Há por aí muita pessoa triste. E triste no verdadeiro significado da palavra. Gente com almas de vidro, lacónicas numa vida pontilhada a mediocridade e deixa-andar. Juro-te, todos os dias encontro pessoas assim. Ainda hoje, aquela senhora de cabelo corroído pelo tempo, abafou-me nos seus olhos caiados a vazio, onde nada se gritava ou vivia. Confunde-me um mundo assim, nunca soube bem porquê. Eu sei a linguagem dos meus olhos, do meu corpo, mesmo quando contam coisas que deveriam ser só minhas. Sei dizer-te todas as vezes em que perderam a cor e tiveram breves traços dessa cal branca mundana e como as tintas mudaram, manejadas pelos meus dedos curiosos, por querer ser mais do que do mundo. Talvez seja por isso que esse mundo me confunde, porque me canso facilmente de coisas que se sucedem sem nexo e com as quais não me importo. Quero importar-me, obviamente, por não achar que a vida seja tão banal que mereça não ser vivida. Tenho sede de mais e não me apetece o dia em que me sinta saciada. É triste, entendes? Tão triste como as pessoas de aquários vazios no lugar dos olhos. Não anseio pela sabedoria na sua totalidade, seja pelo traço utópico que isso apresenta como pela graça que tudo perderia. Mas anseio por mais; pela diversidade do mundo, das pessoas, dos comportamentos, das cores, dos cheiros, dos sabores. Da variedade das culturas e dos hábitos. Da sapiência das rotinas e da loucura dos momentos irrepetíveis. As pessoas vazias não o deveriam ser e muitas vezes sinto um calor cá dentro no qual, se lhe fosse dar mão, correria para cada uma, em abraços de fraternidade que todos compartilhamos, apesar de andarmos tão (mas tão) esquecidos disso.
Se o mundo é a cores, porque insistimos em pintá-lo a preto e branco?

5 comentários:

Unknown disse...

Logo leio este texto. Parece-me bom Ana :)
O 1127 era para ser o meu! Eu estava super contente pq o 27 é o meu número. E tu roubaste. Não se faz! :P
E então ? Conta-me ! como foi ? Foi a tua primeira vez ? *

Margarida disse...

essas pessoas aleijam-me quando lhes tento dar cor. aleija-me quando as tento pintar de salmão. passam a vida com baldes de tinta preta para nos mandar para cima. isso aleija!

Unknown disse...

Foi exactamente isto que senti. Foi exactamente isto que pensei. O mundo pode ser a cores. Ana, disseste tudo! Tiraste-me as palavras da boca :)
Olha, obrigado por existires ;) *

Anónimo disse...

Brutal, arrepiante e sobretudo realista...

Abraço... Sê cor do mundo!

Anónimo disse...

O pior de tudo é quando é a nossa própria mãe. Nem sei como fazer. Ainda por cima ela própria não aceita que está nesse estado de deixa-andar, de olhos vazios, e de alguma forma, culpa desde sempre os outros de tudo o que lhe acontece na vida. Já tentei ser directa, mas não dá, ela insiste que aquilo e o outro é que são os responsáveis pelos problemas dela, (que nem são assim tãão graves)mas dps diz "qualquer dia sei qual é a solução". Não entendo.E há mais pessoas como ela e custa-me ser a minha própria mãe. Já tive coragem para conversar directamente com ela mas eu falo de alhos e ela dá bugalhos.