quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

True colours.


De vez em quando entro no frenesim das arrumações e para mim é muito simples o motivo para tal: a desarrumação exterior é espelho do que se passa interiormente. Nunca poderia trilhar-me de novo se o meu aconchego for uma pilha de roupa que, de tantas vezes vestida e despida, se assemelha a um arco-íris amarrotado. E tiro um prazer tremendo de uma tarefa que muitas vezes adio, pelas nuances de aborrecimento que me parece sempre trazer. À medida que isto vai para lavar, isto é na terceira gaveta da esquerda, isto na primeira à direita, aqui posso guardar isto e aquilo é naquela prateleira, dentro também se abrem pequeninos baús com chaves que se descobrem em sítios impensáveis. O problema é esse mesmo; sempre que as procuro, nunca as encontro. Quando ando em cantorias e saltos balançados, distraída em mundos meus, elas aparecem nos locais mais óbvios. Esqueci-as, é sempre assim. Hoje aconteceu-me encontrar-te, num caderno de folhas rasuradas e planos mirabolantes e, curiosamente, nada se apertou cá dentro. Os baús, escancarados, não se intimidaram com madeiras cerradas, medrosas. Tudo ficou em paz e, curiosamente, estranhei. Não porque ainda sejas almofada onde adormeço ao anoitecer mas porque descobri que és palhaço pobre, esfarrapado de tantas brincadeiras inocentes, carinhosamente guardado num baú decorado com cartolinas coloridas a lápis de cera.

3 comentários:

Margarida disse...

isto vai para lavar.
um dia ainda me faço isso a mim!

Nice disse...

Hope so!

Anónimo disse...

Também gosto de organizar. até porque bastam uns dois meses sem mexer em nada e está tudo fora do sítio!