domingo, 28 de fevereiro de 2010

All you need is music.

Queres que te diga o quê? Sabia de antemão que amar um músico não era fácil. Nunca te quis roubar ao espírito boémio que me apaixonou, às tardes passadas ao piano, arrancando escalas musicais desconhecidas à minha cultura plebeia nesse campo. Nunca foi essa a minha intenção e quiseste abdicar da arte aos poucos, percebendo como isso te diminuía o brilho, por mim. O teu Amor, de letra maiúscula, é a música. É ela a tua paixão, é nas linhas rectas das folhas pautadas que te perdes, é com ela que fazes amor, compondo. Nunca senti cíumes, meu pequeno génio musical. Ela é Amor, eu sou amante. Mudaria alguma coisa se eu ganhasse a brancura do marfim, intercalada a preto? Se os meus dedos fossem cordas e as minhas ancas curvilíneas como a tua guitarra acústica? Não poderias espremer-me em sinfonias clássicas ou melodias cheias de soul e jazz. Os nossos beijos nunca precisaram de compassos marcados a pé esquerdo, muito menos de aquecimentos vocais onde o segue sempre o mi. Amante e musa inspiradora, como gostavas de me cantar, que sabia sempre o seu papel de camarim. A música unia-nos, mesmo quando te roubava e deixava o meu corpo ansioso das tuas melodias dedilhadas a língua quente. Não sou dura de ouvido; educaste-me para tal. E contigo compreendi que em tudo se descobre o corpo e a alma dessa tua arte, cativante de fora, contagiante por dentro. Não, não é fácil amar-te no teu estilo boémio de noites regadas a vozes roucas e ritmos graves, mas a música tornou-se parte de quem sou, por ser parte de ti. Lembraste das escadas do metro em Paris? De como me explicaste a escala naquele piano gigantesco que pisámos entre risos? É assim a minha realidade contigo dentro: musical; mesmo quando fujo ao tom e ponho o cedo demais na caixinha de música.

5 comentários:

P! disse...

Ai melher...

Anónimo disse...

Está sem duvida dos textos mais bonitos que já li Ana !

Margarida disse...

quero uma folha pautada por letras dessas, mesmo que amar artistas não seja fácil, sei eu de antemão.

Maria disse...

Palavras par quê? É amor.

Diana disse...

Vamos lá a isso então. Dear John here we gooooo!