quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


Há pequenas coisas que sempre me complicaram o sistema. E sei que tudo o que me complicava, te complicava. Não fazias de propósito, eu compreendo. Era inato porque vinha de tudo aquilo que fomos vivendo lado a lado. De certa maneira as nossas vidas foram-se fundindo sem que dessemos conta e por isso tudo o que eu vivia, estava em ti. Transpiravas cada gota da minha insatisfação, assim como cada poro da tua pele dilatava ao calor da minha. Eu amava o mundo e provavelmente tu amavas-me a mim, desenho rascunhado de ser humano. Boneca de trapos que se enfeitava de cores e adornos, querendo enganar todos os que passavam pelo degrau onde sentada esperava que o amor a recolhesse. Ia pelo mundo, para o mundo, com o mundo. Ou então ia de mãos vazias, não sei. Sei que corria, corria, corria por querer sentir aquilo que descobri só sentir no brilho do teu sorriso. A pouco e pouco as teias das nossas vidas enredaram-se, não porque quisessemos mas porque tinha que ser assim. E quando decidi que não queria pintar de mais cores o quotidiano, chegaste tu. Aquele que sempre esteve, no silêncio. O que me ouvia chorar, gemer, murmurar os males de amores do mundo que me usavam para depois deitar fora, como uma peça de roupa em segunda mão. Vivias o que eu vivia e por isso sei o quanto te magoei. Estou dorida, com o corpo desgastado entre lençóis sujos que não me apetece mudar. E vens tu... Tratar-me, remendar-me, recolher-me do leito mal-amado onde me deitei para esquecer o mundo. Coseste-me as feridas e prometeste que daqui para a frente seria melhor e eu acreditei, porque trazias contigo um cheiro a alfazema que me devolvia a infância perdida. A inocência do brilho nos olhos, desencontrada em ruelas da vida.

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