Tenho saudades de casa. Saudades da mãe, de a ouvir chamar-me “meu passarinho” ou tão simplesmente os dois nomes como se fossem um só, quando está menos feliz comigo. Saudades do pai, das conversas, do beijo sentido na testa. Saudades da minha cama, do meu quarto, das minhas fotografias, das minhas coisas. Saudades das broas da avó e do leite morno. Saudades de ouvir o avô falar do Sporting, das touradas e perguntar como vão os estudos. Saudades dos outros avós, de remexer em fotografias antigas e perguntar “Quem é?” e ouvir a explicação paciente da avó. Do cheiro a fruta descascada e do pão com manteiga. Saudades das minhas Barbies, dos meus bebés, dos mundos de fantasia desmontáveis em dois minutos. Saudades de rir com a prima que é irmã. O sentir falta e saber que vai passar, que daqui a pouco tudo volta, que a cidade que me conhece não foge. O precisar de mimo e saber que ele me espera, como um presente enorme de Natal. Porque o melhor do mundo é isto. Sentir que mesmo longe, estamos perto, ao alcance de uma recordação mais desbotada.