sexta-feira, 26 de janeiro de 2007


Peguei na tela em branco, de uma brancura ofuscante. Não o fazia há algum tempo. Quanto? Não sei... Perdi-me no tempo. As horas, os minutos, os segundos, nunca foram nada para ti e deixaram de o ser para mim.

Peguei na tela. Nos pincéis. Nas tintas. Peguei em mim e pintei. Misturei cores conhecidas, descobri cores. Descobri-te em cada traço e perdi-me em cada traço de ti. És de uma leveza que não pode pertencer a este mundo. Caminhas sem tocar o chão. Trazes no cabelo o cheiro a jasmim. Trazes na pele o cheiro do mundo.

Rasguei a tela. Rasguei a tela na esperança de te rasgar. De rasgar a tua presença, de te tirar dentro de mim. Teimas em não sair e em marcar, cada vez mais, a tua presença com a subtileza do arco-íris. Vejo-te reflectida na brancura da tela, como se fosses parte dela. Respiro-te em cada partícula de tinta. Até isso me tiraste, o prazer do cheiro a tinta. Tinha pouco e o pouco que tinha, levaste-o contigo. Devolve-me ao menos a tela rasgada para que te possa ver, porque o meu coração, esse, teima em cegar.




[ Tela maravilhosa intitulada: Mulher de costas. De Fernando Barbosa ]

3 comentários:

Monica disse...

Qualquer dia chego aqui e já nao há palavras. Mas neste tenho que dizer. Adorei. LIndissimo mais uma vez.

Beijinho**

... disse...

Realmente é um texto magnífico. Adorei. Começa a ser um passeio agradável cada vez que passo no teu cantinho.
:)
Bjo

C disse...

ler-te é muitas vezes ouvir o meu interior... gosto da forma como escreves e muitas vezes como me descreves.
gosto da tua presença. gosto de ti*