terça-feira, 16 de janeiro de 2007


Não a via há meses. Aconteceu. O tempo e a distância levaram a cumplicidade que sempre existira. Agora olho-a, aqui sentada à minha frente nesta mesa escura onde o café amarga. Os olhos brilham-lhe e vejo lágrimas choradas durante dias. As palavras custam a sair. Foi o tempo... Calou-nos o coração!

O nó que existia desatou-se quando lhe peguei na mão. As palavras saíram como uma nascente por descobrir.

- Sabes... Ele prometeu-me o mundo. Todos me prometeram o mundo. Mas ele deu-mo. Trouxe-o naquelas mãos e entregou-mo. Disse-me "Cuida bem dele, é teu.". Estranho, não é? O poder que ele tinha... Achar que me podia dar o mundo, como se lhe pertencesse de alguma maneira. E eu acreditei. Acreditei que o mundo era meu, que me tinha sido dado. Que aquelas mãos que eu conhecia como se fossem minhas, o tinham trazido até mim. Não soube cuidar do mundo e não soube cuidar de quem mo trouxe. Vivi a minha vida de novo, em cada momento que partilhámos. Descobri-me, sabes?! Descobri que não era tão egoísta como achava. Aliás, deixei tanto para viver aquilo. Ele foi e voltou. Abri e fechei o meu coração vezes sem conta. Tentei devolver-lhe o mundo, a sério que tentei... Mas ele não o aceitou de volta. "Cuida bem dele, é teu", voltou a dizer-me.
Queria dizer-lhe que não suportava, que era um peso demais para mim. Não sei se era a minha boca que calava tudo isto, se era ele que não me queria ouvir, fingindo-se de surdo à minha dor. Doeu tanto, Sofia... E ainda dói. O peso do mundo está em mim e é por isso que o meu coração pesa. Sinto-me fria por dentro, fechada. Tenho a sensação que sou de mármore, nada me pode aquecer. Eu sei que tenho mil e um motivos para sorrir, para ser feliz... Mas não consigo.
Chama-o Sofia. Diz-lhe que não aguento. Diz-lhe que me levou o amor, as forças, a vontade de crescer e ser melhor. Diz-lhe que só faço sentido quando somos dois. Que sem ele a casa fica vazia, que trago na pele o cheiro do mundo e mesmo assim o dele permanece em mim. Diz-lhe que o meu castelo ruíu e não tenho vontade de o voltar a erguer. Diz-lhe. Diz-lhe porque não aguento ver o mundo passar por mim.

- O mundo não passa por ti, minha querida. Lembraste que ele te o deu?

Sorriu. Não a vi sorrir desde que se sentou ali, frente a frente. Agora estavamos ao lado uma da outra, ela encostado no meu peito. Conseguia ouvir o coração que ela dizia que pesava. O coração batia, tudo estava bem. Só era preciso que ele batesse no ritmo certo.

2 comentários:

Monica disse...

Eu cá sou uma pessoa que a bem ou a mal, me saiem assim sempre umas palavritas. Neste caso, confesso, a dificuldade está a ser alguma, para não dizer grande.

Eu gosto muito da maneira como escreves..gosto pk sim, só assim por gostar. Nem sei muito bem porquê.
Quando leio Inês Pedrosa, gosto porque tenho a sensação que ela diz tudo, mete todas as palavras, diz da forma que eu quero ler. Contigo, por vezes passa-se exactamente o mesmo.

Textos destes, os teus textos, faziam um belo livro de bolso para eu ler de vez em quando.No comboio por exemplo xD


Gosto e pronto :)


beijinho*

borrowingme disse...

adoro como escreves
é um privilégio poder todos os dias chegar aqui e ler as tuas palavras
fantástico
bjs