terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Não, obrigado.



É o desenvolvimento, ou não, deste feto que vamos despenalizar dia 11 de Fevereiro.


Relembrando a pergunta: “Concorda com a despenalização da IVG, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”


A minha resposta é NÃO.


As campanhas que apoiam o "Sim" procuram virar a questão para outros pontos, que em nada se relacionam com a pergunta imposta. A liberdade da mulher, o facto de existirem casos de mulheres que foram presas pela prática de aborto, etc. O que está em causa não é isto. O que está em causa é a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Vão continuar a existir mulheres que abortem após as dez semanas, mulheres que mesmo que o "sim" ganhe vão recorrer ao aborto clandestino, mulheres presas por abortarem.


O que me incomoda em toda esta campanha são as verbas gastas para a mesma. O montante que implica um referendo, a utilização de impostos nos ditos "estabelecimentos de saúde legalmente autorizados".


Temos um país envelhecido, é do conhecimento geral. Temos um país com longas listas de espera, onde inclusivé se morre à espera de uma consulta. Temos um país complicado a nível jurídico. A despenalização da IVG só vai piorar todos estes campos da nossa sociedade.


É bastante óbvio que este é o caminho mais fácil. Despenalizar a interrupção voluntária da gravidez é um atalho, nos problemas da sociedade de hoje em dia.


Mas será mesmo assim?!


Vejamos... Todas as verbas que se vão utilizar caso o "Sim" ganhe, não seriam melhor aplicadas em estruturas de planeamento familiar? Na recuperação de bairros degradados, onde supostamente isto acontece? Engane-se quem pensa que o aborto clandestino é uma prática de famílias degradadas. O aborto é um problema da sociedade, de toda a sociedade.


O nosso governo deveria apostar em medidas de planeamento familiar, em apoio a instituições que acolhem crianças e em facilitar o dito processo de adopção. Se funcionassemos assim, o aborto seria desnecessário.


Por melhores condições que existam, seja a a nível higiénico, seja de apoio psicológico, o acto de abortar é um choque para o organismo da mulher. Envolve muitas variantes, muitas hormonas, muitos sentimentos. Dúvido muito sinceramente que exista uma única mulher que aborte de ânimo leve. Ao despenalizarmos este acto, estamos a tornar o aborto num método contraceptivo.


Outro argumento utilizado pelo "Sim" é o da liberdade da mulher. "Sou dona do meu corpo", li há dias numa reportagem. Sim, é verdade. Cada mulher é dona do seu corpo, mas dentro desse corpo existe outro a formar-se. Se exigimos liberdade para acabar com esse desenvolvimento, porque é que nos esquecemos dessa liberdade ao praticarmos sexo desprotegido?! Sim, existem acidentes. Toda a gente sabem que existem. Acidentes de viação também acontecem e não é por isso que o condutor culpado é morto. "A minha liberdade acaba quando começa a do outro". Como é que posso dizer-me livre se dentro de mim existe uma liberdade que não me pertence?


Sim, é meu filho, tenho direitos sobre ele. Mas direito à morte?! É outro ser que devo respeitar. A liberdade que quero para mim, também devo querer para ele. E abortar só porque foi um "descuido", porque não tenho condições para ter uma criança agora, é um acto de egoísmo puro.


Nem vou entrar no campo de "o que é que se pode considerar vida..." , porque para mim, sejam 10, 5, 2 semanas... É vida. É uma vida que se desenvolve, é um milagre que acontece.




Martin Luther King dizia "O que me preocupa não é o grito dos maus mas sim o silêncio dos bons."


Por isso, peço-vos, vão votar dia 11 de Fevereiro, seja qual for a vossa escolha!
Visitem:
Explorem o site, leiam os textos, vejam os vídeos... Muito, muito bem construído!






7 comentários:

Monica disse...

Pela primeira vez vejo escrita uma posição, independentemente de ser sim ou não, fundamentada como deve ser. Usam-se demasiados artificios para falar sobre esta questão. Campanhas que nada dizem, e que trasnformam tudo em mais uma acção meramente politica.


Muito sinceramente obrigado, porque acho que o teu texto, concorde-se ou não, venha quem vier, torna-se claro. Defendes o não com clareza, sabendo porque o fazes. INfelizmente não é assim com toda a gente.


beijinho*

Anónimo disse...

Uma vida humana que não é a minha,depender de um "estado de alma" para vingar é algo que me faz muita,muita confusão. Sim,porque é de um estado de alma que falamos,quando se escreve numa pergunta "por opção da mulher"...
Confesso que anseio pelo dia 11 de Fevereiro porque começo a ficar cansada de falsos moralismos,politiquices e pretensas defesas de direitos que,no fundo,o único que realmente pretendem é a desresponsabilização humana.Viver num mundo em que tudo é preferível,desde que não se seja responsável pelos nossos próprios actos assusta-me...
"Não,obrigado"

GONIO disse...

Gostei do teu texto, sem os "chavões" do costume, com a perseguição de quem pensa de maneira diferente. Também pus-me a pensar sobre o assunto e escrevi no meu blogue, e a conclusão é a mesma: NÃO!
Qdo há um problema, resolvem-se as suas causas, não as consequências!
Bjo

o alquimista disse...

A minha é NNNNNNNNNNNNNNNâOOOOOOOOOO???
e acabem com a estupidez...


Doce beijo

Anónimo disse...

é uma matéria difícil de tocar
mas vendo a foto de um feto de dez semanas... como é que alguém é capaz de não chamar aquele bebé uma vida?


vou visitar o site
bjs e bom voto

Ana disse...

Em memória de Tina

Tina (nome fictício) era uma menina angolana de 13 anos. Como era órfã, vivia numa casa sobrelotada com os tios e vários primos, num bairro social dos arredores de Lisboa. Um dia, ficou grávida de um primo mais velho, que a aconselhou a abortar para não ser expulsa de casa. Juntos, procuraram então, uma mulher do bairro que resolveria o problema. Porém, como não possuíam o dinheiro suficiente para pagar o «serviço», a dita mulher introduziu um objecto no útero da adolescente e garantiu que só o retiraria quando recebesse o restante pagamento. O primo tentou arranjar o dinheiro, mas demorou demasiado tempo e a jovem morreu, após vários dias de hemorragias. Nunca recorreu ao hospital por receio de ser denunciada.
Esta é uma das graves consequências da incriminação e consequente aborto clandestino.
Até quando, condenaremos à morte, estes seres humanos? Ou a «Santa Inquisição» do séc. XXI considera que deverão morrer pelo seu «pecado»?!
PS- Esta criança/adolescente não era um ovo, não era um feto, era um ser humano já formado, já nascido, já crescido, poderia ser vossa irmã, vossa filha, mas sem dúvida, vossa semelhante e, segundo Cristo, merecedora da vossa compreensão e não da vossa incriminação. Em 2005 morreu outra adolescente de 14 anos. Quantas mais deverão morrer para manter uma lei cosmética, que não salva nenhum embrião, mas dá a alguns o conforto de viver num país de elevada «moral»?
Ana Matos

Ana disse...

Com base no argumento «defender a vida humana, que já o é desde a concepção», teríamos de proibir, e considerar um crime hediondo a fertilização «in vitro», pois, para conseguir engravidar por este método, cada mulher «mata» vários embriões excedentários. Teríamos de proibir a pílula anticoncepcional, pois, um dos seus efeitos é evitar a nidação do ovo humano na parede uterina. Teríamos de proibir o DIU- dispositivo intra-uterino, pela mesma razão. Só poderia ser usado o preservativo, que por vezes rompe ou fica mal colocado, o diafragma e os espermicidas, extraordinariamente falíveis.
Pensando bem, com base neste argumento, de que já temos um ser humano desde a concepção, e que é um crime destruir essa vida, a esmagadora maioria dos portugueses são criminosos, pois, não acredito que a maioria só use métodos naturais e de barreira, ou pratique abstinência. Se assim é, são os responsáveis pela baixa taxa de natalidade, juntamente, com as mulheres que ficaram inférteis como consequência de um aborto clandestino.
Quanto aos impostos, é apenas uma questão de escolha: pagar os abortos realizados em condições de segurança, ou pagar as intervenções das complicações dos abortos clandestinos, para já não falar de custos judiciais. Agora, escolha para onde quer mandar o seu dinheiro.