domingo, 7 de janeiro de 2007

Estrela da Tarde*


Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
eu esperava por ti, tu não vinhas
tardavas e eu entardecia
era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhamos tardamos no beijo
que a boca pedia
e na tarde ficamos unidos ardendo na luz
que morria
em nós dois nessa tarde em que tanto
tardaste o sol amanhecia
era tarde de mais para haver outra noite,
para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
minha estrela da tarde
que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.

Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza
se tu és a alegria ou se és a tristeza.

Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites
que me adormeceram
dos noturnos silêncios que a noite de aromas
e beijos se encheram
Foi a noite que os nossos dois corpos cansados
não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite
nos aconteceram
era o dia da noite de todas as noites
que nos precederam
era a noite mais clara daqueles
que à noite amando se deram
e entre os braços da noite de tanto
se amarem, vivendo morreram.

Meu amor, meu amor
minha estrela da tarde
que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.

Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza
se tu és a alegria ou se és a tristeza.

Meu amor, meu amor
eu não tenho a certeza.

Eu não sei, meu amor, se o que digo
é ternura, se é riso, se é pranto
é por ti que adormeço e acordo
e acordado recordo no canto
essa tarde em que tarde surgiste
dum triste e profundo recanto
essa noite em que cedo nasceste despida
de mágoa e de espanto.

Meu amor, nunca é tarde nem cedo
para quem se quer tanto!


Ary dos Santos

6 comentários:

Monica disse...

Isto começa a ser estranho. Cantei muitas vezes este poema em tom de cumplicidade e amizade no ano que passou...porque é um dos mais belos poemas que alguém já escreveu. Olha só digo que mais uma vez, lá está o bom gosto presente.

beijinho*

o alquimista disse...

Olá Ana, esmagador poema, tão cheio de sentires, de anseios, porque o escolheste para começar o ano???

Doce beijo

o alquimista disse...

...e eu adorei...!

Doce beijo

o alquimista disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

e tu dizes-me a mim sem palavras?!?
mais um post assim (mas teus são todos) e eu deixo comments sem texto :o)
bjs e adorei

C disse...

este poema é fascinante!
e ouvi-lo cantando por carlos do carmo é qualquer coisa... oiço vezes e vezes sem conta.
beijinhos*