terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lisboa que me encontra.

Há tantos sítios a bailar dentro de mim. E bailar, aqui, não é uma metáfora artisticamente usada para embelezar a fluência de letras que agora me desperta de uma dormência que se tem sentido. Bailar, no sentido de dançar. Tenho tantos sítios a dançar dentro de mim. As memórias dão mãos e unem-se em bailados que me embalam e soerguem. Sítios, locais que eram teus e se tornaram nossos. Mostrei-te Lisboa e tu mostraste-me as redondezas. O mar, a cento e oitenta graus, enquanto o meu coração se apertava, pequenino, perante a imensidão da Natureza, e tu me apertavas no teu abraço, sempre atento. As nuvens negras da Serra, a ameaçar chuva que nunca caiu e o meu cabelo, desalinhado, entre os nossos beijos sôfregos, de quem ama e não aguenta viver sem demonstrar. A surpresa e a dúvida, à saída do comboio. As placas que passavam e eu sem saber mas sem nada temer. Afinal a tua mão estava na minha e sempre confiei em ti. Estranho hábito este, de dar o coração e daí nascer a confiança. Nunca tive medo, talvez nunca to tenha dito. Arriscava e punha o coração na linha da frente, a toda a hora, muitas vezes nunca sonhando o que poderia nascer dali. A cidade dos estudantes. Os arcos, as ruelas, as lendas que me contaste e o teu sorriso perante o meu olhar pasmado e o meu Conta mais!, como quem bebia das tuas palavras sabedoria cristalina. A tua eterna humildade e o silêncio da fonte onde outros se amaram e juraram ser eterno. O mapa nas mãos e os teus conhecimentos de campo e de escalas, de pés, de latitudes e distâncias. A distância entre nós, entre o meu nariz e o teu, de menos de um palmo e sorriso cheio. E os lugares que agora me dão música e me esforçam os ligamentos são todos teus, todos nossos. Porque esta cidade já não é só minha. Esta casa nunca mais será só minha. Trouxeste contigo a curva do ombro e o cheiro da roupa que fica, mesmo depois de ires e me deixares adormecida, como uma catraia. Vivo constantemente neste encontro inalterável, entre as esquinas da casa e as esquinas de Lisboa. Vejo-te no miradouro e no rio, onde tantas vezes te ensinei como amar era cortante, penetrante. A baía fala-me de ti e é por isso que, ainda hoje, sempre que avisto um comboio na linha, danço como bailarina que nunca quebrou, nunca vergou.

2 comentários:

mariana disse...

consegues surpreender sempre :)*

qel disse...

de bailarina para "bailarina": fico feliz por ti, por haver alguém que te desperte a leveza dos pés e te ponha a dançar. depois disto "As nuvens negras da Serra, a ameaçar chuva que nunca caiu e o meu cabelo, desalinhado, entre os nossos beijos sôfregos, de quem ama e não aguenta viver sem demonstrar", tens de escrever um livro. *