quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Talvez.

A madrugada vai adiantada. Não percebe que estranho hábito é este que agora se apossou dela mas rende-se, inevitavelmente. Levanta-se da cama e sente o chão gelado enquanto se encaminha para a cozinha, ainda com o cérebro a latejar, dormente. A meia-luz bebe água, olha lá fora o escuro pontuado de clarões citadinos. A sua mente desperta, lentamente, e arrepia-se ao ouvir o vazio em que habita. A casa começou a esvaziar-se, pouco a pouco, e interiormente o mesmo se passa. É mais um ciclo que se inicia. Ou talvez se quebre, pensa. A verdade é que as coisas estão a passos de mudar e a mudança, que está rotulada de "benéfica" por todo o lado, assusta-a. Sempre foi assim. Aquando das mudanças necessárias, não, aí sempre foi a primeira a dar o salto, sem receio do depois. Mas não estamos nesse registo, simplesmente porque é mais uma mudança que em nada controla mas que em tudo a revolve. Está habituada a casas cheias, a barulho de gente, a mesas com vida. A gargalhadas e a abraços, a amuos e a conversas pela noite dentro. E isso vai, inevitavelmente, desaparecer. Talvez seja apenas um momento de pausa, um "volto já" colado na vitrine de um coração que aprendeu e ama, ao ser partilhado. O silêncio nunca a incomodou mas sabe bem o valor dos silêncios divididos, vividos como se fossem de dois que são um. E este silêncio, oxalá caduco, é tenebroso. Tem quartos vazios, armários despojados, malas que já desapareceram porta fora. Talvez seja apenas a noite a falar mais alto, sabe bem o quanto o peito se lhe aperta no negro manto. Talvez seja só mais um sobressalto, pontuando as últimas noites do que agora já não será mais. Talvez. Ou talvez não.

5 comentários:

Unknown disse...

"O silêncio nunca a incomodou mas sabe bem o valor dos silêncios divididos, vividos como se fossem de dois que são um."

Isto, Ana :)

Teresa Vilela disse...

Acho que te percebo...

qel disse...

é querer transcrever uma parte e aperceber-me que simplesmente uma parte nao chega. :) *

Margarida disse...

é bom voltar para sítios como os nossos, não é? estranha a maneira como passo a achar aquele silêncio no verde-água sempre sempre dividido.
e este sítio como meu não me podia ter recebido melhor, Ana :)

Rita disse...

também gosto muito de ti e sei que as mudanças serão sempre para melhor. =) go girl!