segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Há um momento. Há sempre um momento em que a decisão é tão tua como o ar que te enche o peito. Conscientemente escolhes saltar, sentir o sabor salgado da vida renovada e a frescura de um abraço que nada traz de vazio. Há um momento em que te pontapeiam o centro da alma e tudo se vai. Esvazias, como um balão desamparado no céu escuro esquecido das luzes da feira. E não há oxigénio que te valha, não há molécula que te preencha. Esvazias-te de ti e de tudo e começas de novo. Ou recomeças, depende de onde tenhas encostado a caneta à berma do diário. De régua e esquadro desenhas aquilo que sabes de cor, onde as regras foram esquecidas e nada é certo. Piscas os olhos às luzes fortes e, mais uma vez, entregas-te ao prazer e ao que te faz feliz. Há um momento. Há sempre um momento em que és dona da tua pele e sabes que nunca ninguém seria tão bonito como tu dentro dela.

5 comentários:

mariana disse...

Isto soube-me a uma tarde solarenta, onde os raios de sol atravessam os vidros de uma chocolataria no sul de França e uma criança está a sorrir para ti como se fosses a coisa mais importante do mundo :)

Margarida disse...

há alguém. há sempre alguem que te enche o peito de força de alegria. e tu sentes-te ainda melhor na tua pele *

qel disse...

isto nao podia ter sido escrito por mais ninguém. tu soubeste, com certeza, que ninguém teria escrito tão bem como tu, foste muito 'tu' dentro da pele de escritora desta envergadura.
«Esvazias-te de ti e de tudo e começas de novo. Ou recomeças, depende de onde tenhas encostado a caneta à berma do diário».
de génio, ana. *

Pirikitta disse...

A tua ecrita entende-me... ou sou eu que entendo a tua escrita... ou se calhar entendemo-nos mutuamente.. e eu gosto disso!

Pirikitta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.