terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pour me another gin.

- Em que é que acreditas?
- Como assim?
- O que é que te move.
- Na vida?
- Em tudo. Tento ler-te e tenho-te como um livro aberto mas sinto que és o terceiro volume de uma outra história que desconheço.
- Não é díficil, vai por mim. Sou das pequenas coisas. Acredito no bom, numa confluência perfeita para algo maior.
- E esse algo maior é.. ?
- Precisas de rótulos? Existe algo maior. Tem que existir ou eu, como me conheces, deixarei de fazer sentido. E não, não sou mais uma marioneta na negra peça que o Mundo encena.
- Então achas que és dona de ti, é isso?
- Também não. Dou o meu melhor, a cada dia, até mesmo quando sou má. Sou boa a ser má. Quero ser a melhor em tudo o que faço, mesmo que para isso me esconda cá dentro, como naqueles dias em que acordas com a luz do amanhecer e a última coisa que queres é sair da cama. Sou boa a embrulhar-me nos lençóis da alma, da mesma maneira que sei andar de peito aberto, sem medos.
- Não é possível, toda a gente tem medos, pequena.
- Não. Os medos são só mais um artefacto. Ganham volume se acreditares neles, tal qual como os monstros debaixo da cama. E um dia decidi-me a não acreditar em medos porque não gosto de ser dominada. O medo tolda-me o coração e, se não for coração, não sou nada.
- Nada? És romântica de mais. A vida não gira em torno no Amor.
- Pois não, finalmente acertaste uma. Mas devia, sabias? Devia. Porque o Amor, o que te deixa livre e te respeita, dá frutos. Frutos desavindos, com tonalidades de céu, de terra, de real e de fantasia. E é por aí que quero guiar o curso do meu rio.
- Como é que vais remar contra a Humanidade? As pessoas são más, por natureza. Todos os dias te dão provas disso.
- Não. As pessoas são sensacionalistas por Natureza. E o Amor não é de modas nem de sensações. O Amor não enche capas de revistas por ser incapaz de ferir.
- O Amor é um vício.
- Sim, como tudo na vida. O cigarro que te arde entre os dedos, vício. O copo esvaziado na ânsia de respostas, vício. A maneira como me devoras enquanto conversamos, vício. Até eu sou um vício, na minha ambiguidade de dependente. Consumo e deixo-me consumir. E talvez tenha sido esse consumo compulsivo que me trouxe até aqui.
- Até ao terceiro volume de uma história que nunca vou compreender.
- Provavelmente. Nesta fracção de segundo a escolha é simples: vives ou deixas viver?

2 comentários:

Teresa Vilela disse...

Matas-me, de uma maneira doce e boa...

Margarida disse...

foi o teu texto mais diferente e mais 'toma lá' que eu já li, sobre este tema (tema?) em especial.