sábado, 17 de abril de 2010

Ninguém imagina que as olheiras que carrego não são de noites mal dormidas. Pelo contrário. Durmo horas seguidas, sem me dar conta de tal, enquanto o corpo molda a cama em novas formas que não as partilhadas contigo. Adormeço e nem assim o coração encontra sossego. És tu que me invades os sonhos e me mostras tudo o que poderíamos ser. És tu, sempre tu. Com novas feições ou com aquelas que te decorei, já lá vai o tempo. E, na mesma medida que o coração não está em paz, também eu não estou. Acordo com o corpo dorido, na sensação de que me obrigaste a correr a maratona contigo, noite fora. Sempre tiveste esse dom, sabias? Bastava o calor da tua mão na minha para eu não temer qualquer desafio e brincar aos feitiços nas noites escuras e pontilhadas a luzeiros aglomerados em constelações que inventavas só para mim. Sem efeitos especiais eu amava-te, independentemente do significado que isso tenha ganho hoje em dia. Eram químicos que me percorriam o corpo e me despertavam os sentidos, fosse nas ondas do teu cabelo ou nas marcas discretas que te caracterizam a face. Eras tu, agreste em mim e eu, doce em ti. O mais fácil, ao leres-me, será pensares que nada disto é para ou sobre ti, mas sabes que mais? Encontro-te todas as noites e sei que és tu porque trago o corpo marcado por esse sentimento que não ouso nomear e o travo agridoce que me inebria o cérebro é o teu.

Sem comentários: