segunda-feira, 19 de abril de 2010

É preciso saber olhar de fora.

«Fynn, eu amo-te.» Quando a Ana dizia isto, todas as palavras ficavam como que «obstruídas» pela abundância de significado com que ela as carregava. O seu «eu» era completo, e, pensasse ela o que pensasse, estava cheio de ser. Como a luz que não se desfia, o «eu» da Ana também não se desfiava; era puro e feito de uma peça única. E a palavra «amor», não tinha para ela qualquer significado piegas, sentimental, mas era antes cheia de coragem e de estímulo. Para a Ana, «amar» significava o reconhecimento da perfeição do outro. A Ana «via» uma pessoa em qualquer lado. A Ana «via» um «tu». Tratava-se de uma nova experiência, ser visto como um «tu», clara e definitivamente, sem nada escondido. Era maravilhoso e aterrador. Sempre ouvira dizer que era o Senhor que nos via clara e completamente mas então, se todos os esforços da Ana iam no sentido de ser como o Senhor Deus, talvez fose possível apanhar-lhe o jeito se se tentasse o suficiente.. (...)
Podíamos, se quiséssemos, negar que o Senhor Deus existe, mas nenhuma negação altera o facto de ele ser. E o Senhor Deus é, é o eixo, o centro, o coração das coisas e a graça está nisso. E que temos de reconhecer que ele é todas essas coisas querendo isso dizer que nós somos o centro de nós próprios, não Deus. Deus é o nosso centro, somos nós que assim o reconhecemos. Isto torna-nos como que uma parte do interior do Senhor Deus. Esta é a curiosa natureza do Senhor Deus, ou seja, embora sendo o centro de todas as coisas, ele espera fora de nós e bate para abrirmos a porta. Somos nós quem lhe abre a porta. O Senhor Deus não a arromba, não, ele bate primeiro e espera.
Para fazer uma coisa destas e ele realmente tinha-o feito, era preciso ser um superdeus. E Ana continuava:
- É mesmo engraçado, lá isso é; torna-nos importantes, n'é? Vê só, o Senhor Deus a pôr-se em segundo lugar!
in 'Senhor Deus, esta é a Ana'