quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nua, de mão no bolso.

Sabes que mais? Estou um bocadinho cansada. Só um bocadinho cansada de mim e desta maldita dor que me corrói o ombro. Se eu pudesse traduzia os meus pensamentos confusos em linguagem de gente mas.. Tem sido complicado. É um mundo inteiro de palmadinhas nas costas quando preciso exactamente do contrário, sem saber muito bem de que materiais o contrário é feito. Perdi-me, há muito, de mim e ainda não me reencontrei. Quando julgo voltar a pisar terra firme chegam as tempestades e as ventanias que me arrastam. E o pior de tudo nem é isso, sabes? O que realmente me dói no coração carcomido é o sentimento que não sinto. Com o vento, a chuva e a intempérie posso eu bem porque apesar de ter crescido sem mar à vista, sempre fui peixinho dentro de água. O verdadeiro problema são os outros, que amarram o barco num cais que não compreendem que há muito se foi. Estou feita de tábuas partidas, desgastadas pelo Amor abrupto do mar, e que de firmeza têm só uma vaga lembrança.

"A salvo. Eu? Fico ainda mais um bocado por aqui. Vou despejar os cinzeiros, lavar os copos, dar um arranjo à sala, olhar o rio. Talvez volte para a cama desfeita, puxe os lençóis para cima e feche os olhos. Nunca se sabe, não é?"

António Lobo Antunes - último parágrafo de "Os Cus de Judas"

5 comentários:

Anónimo disse...

esse homem é fantástico. o texto está lindo +.+

47 disse...

gostei muito da subtilieza que é o enfadonho das tarefas diarias e do modo com interioriza que a vida não doi, isso é normal, apenas o ombro.

Diana disse...

miminho no meu blog*

Tyler_____Durden disse...

O livro que te dei, certo?

Midnight Sun disse...

posso estar a ser presunçosa, mas pareceu-me compreender a ideia do texto.