quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Child, the living’s easy.


O Verão é uma estação engraçada. Todos acabamos por ansiar pela sua chegada e no fim lamentamos que vá porque, inevitavelmente, Setembro traz rotinas que não apetecem. Não é que não queiramos, por sabermos que ninguém tem a capacidade de girar o mundo e trazê-lo outra vez. Não apetece, simplesmente. O calor traz outra cor aos corpos e às almas. E gosto de conversas de final de Verão. Aquele recordar já saudosista de quem recapitula cada momento em slow motion, saboreando-o over and over again. Sempre fui das saudades, todos o sabem. E agora não as tenho, curioso. Não me eduquei para tal, confesso. Aconteceu, sem me apetecer também, como a vontade do Verão. E não é que este período de latência de corpos morenos tenha trazido algo de mau, pelo contrário. Foi bom. Muito bom. A capacidade de descer aos cinco anos daquela que é do coração, sem nos cansarmos da simplicidade deste amor terno e grande. O amor no estado mais puro, rotina da qual não abdico. O encaixotar físico e interior. O arrumar gavetas que ainda têm muito por onde mexer. As neuras resolvidas em mestrias aprendidas recentemente. Truques corpóreos e da mente. As noites, as madrugadas, as manhãs. Os despertares silenciosos que há muito não aconteciam. E os ensinamentos. De todos os tipos. Os discernimentos, os planos futuros a curto-prazo, porque nunca fui muito de pensar a vida para além do amanhã. E os sonhos. A imaginação que voa sem rédeas, como a vida. Toda a compreensão que não nasci para andar de trela e muito menos para me atrelar na vida. E as certezas incertas, porque também nunca fui de garantias. Pensarmos a vida como um electrodoméstico ou uma lata de conservas torna-se tão triste. Detesto prazos. Não é um ódio de estimação mas quase. Pelo mesmo motivo que sufoco com limites, não admito que me enclausurem em vidas torneadas e pensadas. Conversávamos sobre comparações e entendemo-nos. Ser fotocópia também não é bonito, admito. Não o sou nem aspiro a ser. Ou não é na diferença que nos destacamos? Mesmo que seja em moldes que ninguém viu. E o descobrirmo-nos numa música cantada de olhos nos olhos e sorriso nos lábios. Sem medos, de peito aberto. De mulher, de menina, de criança. Sentir que a idade é um posto mesmo quando temos tanto para aprender, dada a temporalidade terrena. O Verão soube-me a pouco e a tanto. E não me apetecem casacos, depois das maravilhas dos vestidos e dos calções. O Verão pode durar até eu querer, certo? Cá por dentro mando eu e, por agora, escolho não desbotar.
(e sim, sou eu e a minha Madalena, na foto.)

6 comentários:

Unknown disse...

E o descobrirmo-nos numa música cantada de olhos nos olhos e sorriso nos lábios. Sem medos, de peito aberto.

:)

Teresa Vilela disse...

Leio-te muito. Sempre! Mas há algum tempo que não te comentava aqui o "Papel de Seda" (haverá outros blogs com nomes tão ou mais válidos!)
Hoje comento porque gostei especialmente, e porque me revi particularmente.
E deixo um beijinho, cheeeeio de saudades!

Joana M. disse...

Eu gosto de todo o ano - sem desbotar, papel de seda. *

Anónimo disse...

Fofinha, as usually o texto está uma delícia mas cheirinho de travão aí, porque o NOSSO Verão vai começar agora! ;)

E adorem fotos tuas e da Madalena xD

Margarida disse...

podemos saborear um choquente quente com companhia que aquece a alma over and again, tal qual os batidos com gargalhadas refrescantes : )

Anónimo disse...

"Toda a compreensão que não nasci para andar de trela e muito menos para me atrelar na vida." malditos daqueles que nos querem atrelar. E o verão esse que teima sempre em nos deixar quando cai setembro...