quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Growing up.

Acabaram-se as mudanças. Pelo menos de uma casa para outra. Na casa nova há ainda muitos caixotes no meu quarto, alguns na cozinha e um armário cheio de coisas para organizar. Noutras alturas detestaria esta confusão; esta porém sabe-me bem. A minha casa nova tem um cheiro que ainda não é meu. Tem um sofá que ainda não está moldado às formas do meu corpo e uma cama que ainda me é desconhecida, apesar da primeira noite lá passada. Curioso como, há dias, dormia mal, revirando-me na impaciência do relógio e ontem dormi como um anjo. Deixei inclusivé uma conversa a meio, tal não foi a profundidade do sono. Acordei com a pouca luz que me chegava por entre as aberturas da persiana e, enquanto me espreguiçava como um gato, sorri. Gosto da minha casa nova. Gosto de saber que no quarto ao lado, ainda vazio, morará uma alma que aconchega a minha e a compreende, num respeito e amizade que poucos poderão gabar. Estendi-me e vi as estrelas e isso é raro, nesta selva urbana onde me enjaularam. A minha jaula não tem grades, sabias? É grande, expansiva, como eu. E, tudo o que imagino realizar por lá, remexe-me as entranhas de satisfação e curiosidade. Ainda há muito trabalho; trabalho esse que será feito entre risos e músicas conhecidas do coração. A minha casa antiga hoje, depois de vazia, fazia eco. E nesse eco não me descobri. A minha vida passou por lá e partes de mim não foram encaixotadas por isso mesmo. Ficaram, naquela sensação prazeirosa de que quem lá morar nunca imaginará quem lá viveu. O que eu ri, chorei, cantei, dancei, sonhei e deliniei, entre quatro paredes. Vidas passadas, águas que já não movem moínhos. A mudanças têm tanto de trabalhoso como de terapêutico. E é nesta independência de agora que me revejo, que me garanto. Entre pratos, utensílios, livros, roupas e afins, trouxe muito do que era meu e empacotei lembranças doces de todos os que lá estiveram comigo. Deixei marcas das palavras coladas na porta, como as que ficam na alma.
Casa é onde o nosso coração mora e o meu.. O meu mudou-se.

9 comentários:

Rita disse...

"Ainda há muito trabalho; trabalho esse que será feito entre risos e músicas conhecidas do coração"

Nada mais acrescento *

P! disse...

Pois apesar de trabalhosas eu preciso fazer mudanças =)
Sim fazemos de ostra uma da outra, aos poucos!

Unknown disse...

Onde é a casa? O quarto ao lado é para mim? *

Unknown disse...

Só não partilhas pq não quereeees ! Aaah x)

Margarida disse...

preciso mesmo de uma mudança :p

Anónimo disse...

E à alegria de te ver assim somo alguma tristeza por (já/ainda) não ter feito parte desta mudança... Queria tanto brincar a isso das almas que se aquecem em quartos lado-a-lado...

Anónimo disse...

"Casa é onde o nosso coração mora e o meu.. O meu mudou-se."
não é preciso dizer mais nada, está perfeito. Boa sorte com os caixotes (:

Marianinha disse...

Gostei tanto :)
"Casa é onde o coração estiver" é certo, e sabe tão bem sentirmo-nos em casa, mesmo que o colchão seja diferente, o sofá ainda não esteja moldado, e a casa ainda não tenha o nosso cheiro.

beijinnho *

Abby Richter disse...

adorei este texto, escreves tão bem, gosto mesmo de ler o que escreves!
Um beijinho :)