terça-feira, 7 de julho de 2009

Feel her body rise when you kiss her mouth.


Ela sonha mais do que o dilatar do corpo lhe permite. Sabe-se, conhece-se louca mas de uma loucura saudável e peculiar. Imagina vidas dentro e fora da sua, com a mesma facilidade com que inspira e expira. Se fosse árvore, seria um sobreiro. Útil por inúmeros motivos, nem que fosse pela grandiosidade da simples sombra. Se fosse flor, seria muitas. De todas as cores que existem e das que ainda estão por inventar. Descobre-se incoerente pela paixão de sempre e encanto da fotografia a preto e branco. É nas variações que se revê, como as brisas de Verão que não permanecem muito tempo. Nunca perde tudo o que já viveu e ninguém compreende o gozo imenso de espreitar baús, às escondidas. Talvez seja por isso que tantas vezes se ouve falar sozinha, marcando a lápis de carvão tudo o que não pode ou não quer perder. Vive de dejá vùs, quando se trata de cheiros de Amor e sabe, com uma precisão cirúrgica, onde o guarda. Não esquece detalhes mesmo quando tudo o resto é um borrão difuso na memória de criança pequena. Crescida, olha-se ao espelho e inevitavelmente sorri perante a rotina. Não saberia dizer os lugares às coisas de ontem porque hoje tudo mudou. Repara nas ondas que lhe cobrem os ombros e avança até ao dia em que elas terão desaparecido, levadas por uma loucura ou pelo tempo. Traz sempre nos bolsos três ou quatro certezas absolutas (mais pesar-lhe-iam e tornar-se-iam inutéis), não mais que isso porque a vida é caduca e dada ao renascimento. E é nesta esquizofrenia anómala que se sabe dona da lua, ou pelo menos tão metamórfica como ela. Tolerante aos caprichos do sol e sempre disposta a ficar longe das luzes da ribalta, fazendo-se brilhar apenas quando se torna preponderante. Não compreende em que pé está, nunca compreendeu, e não é por isso que se deixa ficar. Sabe do fascínio que o circo exerce nela e a certeza coloca-a na rede de segurança remendada, por já ter falhado algumas vezes. Dores que sempre se curaram e que nunca tiveram um travo bitter-sweet. Traça metas como ninguém e entende o lado musical que lhe pula no peito. Arrepende-se de nunca o ter expressado fisicamente e sabe que, um dia, as notas serão um prolongamento dos sentimentos ambíguos e irreverentes em que vive.