terça-feira, 17 de julho de 2007


O comboio passou. E ela ficou sentada, vendo-o passar. O medo de entrar, de sair da plataforma, foi tal que sentiu o corpo falhar, como se estivesse a ser levada pelo vento. Teve medos e certezas. Certezas que não chegaram para que fosse. Sentiu que mal a porta do comboio se fechasse, aquele capítulo ficaria encerrado. Seria o ponto final, o virar da página porque tanto esperava. Esperaria mesmo? Não sabe. Foi por isso que não entrou, que se deixou ficar, pensado que o próximo iria levá-la para longe de toda aquela inquietude. Soou o apito, anunciando o comboio seguinte. "É desta." - pensou com os seus botões. Não teve noção de quanto tempo passou. Tudo parecia abrandar, à medida que o comboio se aproximava. Aquele monstro gigante parou em frente a ela e trouxe-lhe lembranças doces, de tempos frágeis. Sorriu ao olhar para o bilhete e entrou, sem medos, pensando que tinha que ser assim. Não havia outro caminho a percorrer. Tinha corrido todos os atalhos, todas as veredas, para fugir daquele destino quando, no fundo, o sabia como certo. Abriu a mochila onde transportava tesouros de uma vida, tirou um livro, os óculos de sol. Lia, chorando por detrás das lentes translúcidas e via nas suas lágrimas promessas de esperança e de calor. Entregou-se. Se tinha que ser assim, que fosse, mas que fosse com um sorriso. Na cara e no coração.

1 comentário:

Monica disse...

Sabe bem resolver coisas assim...sabe melhor ainda ser capaz de tal!! Bem que precisava. Da capacidade de ir e do bilhete xD

beijinho**