sábado, 16 de junho de 2007

Na corda bamba..


Em frente, a escuridão do público com o grito suspenso no olhar. Tinha estado naquela plataforma vezes sem conta. O sorriso virado para o mundo, a dor escondida na penumbra da alma, o brilho do espetáculo que lhe corria nas veias. Todos esperavam que não falhasse o salto, que ao rufar dos tambores ganhasse asas e voasse, como anunciavam os cartazes. Esperavam, respiravam e suspendiam o medo, num trapézio tão seguro como o que agarrava com as mãos.

Foi. Ganhou asas e planou, por uma última vez. Enquanto sentia o fervor das expressões boquiabertas compreendeu que viver sem voar não valia a pena. Tornava-se insonso, como se o largassem a mil metros do chão, sem o amparo da rede que o acolhia quando falhava, como o colo da sua avó.

- Avó, querem tirar-me as asas.

- Meu filho, as verdadeiras asas, as da alma, ninguém te as corta. Abre os braços e voa.

2 comentários:

m&m disse...

E lá foi ele, qual Fernão Capelo Gaivota! "Vê mais longe a gaivota que voa mais alto".. KissE

Monica disse...

Ontem disse assim numa conversa: " Temos que balançar para encontrar o equilibrio, é o que os trapezistas fazem, é o que nós fazemos na vida.."

Depois, a musica que não sai da cabeça hoje:'Flying without wings'..

Assim de repente, é preciso mais provas da sintonia? Fico-me por aqui...

O texto esse, caiu vindo do céu. :)

beijinho**